segunda-feira, 11 de julho de 2022

MONTE AZUL PAULISTA - 126 ANOS DE FUNDAÇÃO (parte 1)

CONQUISTAS - Fatos e Fotos
INTRODUÇÃO: Os alicerces de uma sociedade são fundamentais para que ela se sustente e mantenha um padrão de vida que signifique uma constante, uma permanência e fixação concretos, com qualidade, desenvolvimento e progresso para toda a população. Assim, mais dificilmente ela se dirigirá à decadência. E a sociedade que mencionamos não é aquela rica, milionária, repleta de futilidades, e ainda para poucos. Na verdade, a sociedade concreta que precisa existir tem seus alicerces na educação, no respeito, na preservação da Justiça e direitos, na manutenção de suas obras e na preservação da saúde e da liberdade, dentro dos parâmetros legais, que exigem também os deveres de cada cidadão. Monte Azul Paulista completa no dia 29 de junho de 2022 mais um aniversário. São 126 anos de existência, onde o desafio é constante, pois apesar da idade, somos ainda uma pequena cidade, um pequeno município, que procura os seus alicerces, o seu apoio, sua base e sustento. Dependemos ainda, e muito, do Estado e do governo federal para nos mantermos. Nossa economia é limitada, com poucas indústrias, um comércio sacrificado (principalmente em tempos de internet), e serviços públicos que ainda deixam a desejar, apesar das inúmeras melhorias que foram surgindo ao longo dos anos. A nossa capa deste Especial de Aniversário é uma alusão à cultura greco-romana, embrião da cultura ocidental, influenciadora de quase toda a nossa vida. Os gregos e romanos sempre demonstraram em suas construções como funcionava sua sociedade, que valorizava a beleza, mas de uma forma que pudesse refletir como eram importantes também a cultura, as artes e os esportes. Heróis eram exaltados em sua arquitetura. Deuses eram reverenciados em todos os aspectos, de acordo com as crenças da época. E o que isso teria a ver com a nossa atual realidade? Simples responder. Somos uma sociedade ainda em construção, e esperamos que não seja para sempre assim. Um dia temos que chegar a ser justos com todos, ou menos injustos com a maioria. A sociedade greco-romana também era uma sociedade injusta, repleta de erros, mas, como a atual sociedade ocidental europeia e norte americana, assim como em outros países de sua influência, conseguia fazer com que a maior parte de sua população conseguisse viver dentro de melhores parâmetros, principalmente com liberdade e respeito ao indivíduo. O nosso país sempre procurou seguir essas metas, mas por incompetência, corrupção ou outros problemas, nunca conseguiu chegar perto disso, e a julgar pelos atuais políticos, em sua maior parte populistas irresponsáveis ou malandros, dificilmente conseguiremos. Nossos alicerces, infelizmente, são frágeis demais, mas ainda dá tempo de mudar tudo isso, afinal, temos mudanças iniciando em muitos sentidos.
FUNDAÇÃO: Monte Azul Paulista nasceu de uma promessa de cunho religioso, mais precisamente de um católico devoto, que depois se juntou a outros católicos e formaram o patrimônio do Senhor Bom Jesus, doando terras para a igreja e construindo a cidade. Corria o ano de 1896, e nossos primeiros alicerces estavam ali, expostos, e outros sendo construídos. O primeiro alicerce foi a igreja católica, base para a construção, que, a partir do segundo alicerce, a família de uma pessoa doente, no caso a esposa de Felipe Cassiano Alves (ou Cassiano Felipe Alves), que a partir de sua cura decidiu, graças a uma promessa, doar uma terra para a igreja construir uma nova cidade, ou um patrimônio. Juntou-se a Joaquim da Costa Penha (ou Capitão Neves), também devoto do Senhor Bom Jesus, e decidiram, junto a muitos outros residentes na região, doar terras para a construção do novo patrimônio. Escolheram uma colina na divisa de duas propriedades, Fazenda Palmeiras (ou Cachoeirinha) e Fazenda Avanhandava (ou Avanhandavinha). Ali, mais precisamente onde hoje se encontra a fonte luminosa, na praça Rio Branco, Romualdo Pereira (ou Romualdo Antonio Pereira, ou Remoardo de Tal) desmatou as proximidades e Felipe Cassiano traçou uma cruz na árvore. Era o dia 29 de junho de 1896, portanto, data de fundação de Monte Azul Paulista. Na época chamaram a nova cidade (ou patrimônio) de São Bom Jesus do Avanhandavinha. Meses depois, foi colocado um cruzeiro no local. Como se sabe, a região pertencia ao município de Bebedouro, e sua área passou a ser realmente do patrimônio somente em 1909, quando foi registrada, apesar de ter uma escritura desde o ano de 1897, quando 25 alqueires foram doados em nome de Joaquim da Costa Penha. Sabe-se que nem toda a área era dele, mas teria sido feita assim para facilitar a doação. No registro da escritura, em 1909, já se sabia a respeito da planta da cidade, que parece uma teia de aranha, e tinha as quadras demarcadas com as datas. Destas, muitas não foram doadas à igreja, ficando reservadas a alguns dos doadores, em especial Joaquim da Costa Penha, que pretendia doar a investidores, entidades e/ou novos moradores, com a finalidade de ajudar a desenvolver a cidade, como se percebeu mais tarde. Além dessa área, mais alguns alqueires teriam sido doados ao patrimônio posteriormente, mas nunca registrados.
Rua São Pedro no início do Século XX.
BASES: Os primeiros dez anos de nossa cidade foram de apreensão, pois vivíamos ainda uma época de pouco dinheiro em nossa região, com uma vida mais rural, com a população vivendo em sua maior parte em colônias de fazendas, cultivando cafezais, arroz, milho, trigo, e demais alimentos, além da pecuária. Assim, na cidade que estava nascendo começavam a chegar os primeiros habitantes, em geral imigrantes italianos, espanhóis, libaneses e sírios, mas também tínhamos os portugueses, alemães e os migrantes brasileiros de outros estados. A grande maioria acreditava na riqueza da região, em especial com os cafezais. Os primeiros edifícios, ainda modestos, eram construídos, a primeira capela católica, próximo ao local do cruzeiro, o primeiro comércio, as primeiras casas. Tudo ainda modesto e cuidadoso nessa primeira década. A partir de então, alguns nomes começam a se destacar por seus trabalhos e sua importância, que seriam históricas. Além dos já citados fundadores, Aureliano Junqueira Franco (ou Coronel Licas) e Domingos Cione eram os principais nomes da época, e figuram como grandes alicerces de nosso município, exemplos de boa conduta. A partir da década seguinte, novos nomes começam a surgir, com uma sociedade mais dinâmica e diferenciada, repleta de todo tipo de comércio, com salões, clubes, livrarias, jornais e cinema, mostrando o quanto a cidade já se revelava. A chegada da linha do trem em 1910 contribuiu para isso, mas tudo era graças aos cafezais, que enriqueciam parte da população, gerando mais riquezas e, consequentemente, modificando a paisagem urbana. Fácil perceber até os dias atuais quantas construções sólidas foram feitas na época. Foi naquele ano fundado o primeiro jornal de nossa cidade, chamado “O Monte Azul”, por Galdino do Amaral Sales. O ano de 1915 foi marcante para o nosso desenvolvimento. Monte Azul deixou de ser distrito de Bebedouro e passou a ser município, mostrando como cresceu rapidamente. Nosso jornal foi fundado naquele ano, com o nome “O Município”, pelo professor José Cione (ou Giuseppe Cione), representando o Partido Republicano Paulista, dominante à época. O primeiro edifício que funcionou como Cadeia Pública foi inaugurado naquele ano.
IGREJA MATRIZ: Aqui cabe um parêntesis para contar um pouco da História de nossa paróquia Senhor Bom Jesus, que completa neste ano 120 anos de fundação. Todos sabem que o principal símbolo de nossa cidade é a majestosa igreja matriz, na praça Rio Branco, que começou a ser construída, para substituir a primeira capela, em fins dos anos 1900, mas que só conseguiu realmente ser edificada após 1917. A primeira capela foi construída pelos fundadores, de modo precário, bem simples, mas após 1907, decidiu-se pela construção de uma maior, devido ao grande número de fieis católicos que já viviam na cidade. Padre Domingos Pardi foi o responsável pelo lançamento da pedra fundamental da igreja matriz no dia 8 de dezembro de 1907. Depois, passaria por muitos outros padres, sendo os principais Mariano Patella e José Gonçalves Branco. Este foi o responsável pela inauguração da igreja matriz, com a finalização do telhado e a imagem do Senhor Bom Jesus (que tudo indica ser ainda a atual, restaurada), no ano de 1917. A então igreja continuou a ser modificada e melhorada com o padre Abel Mendes Telles, que pintou e fez o forro de estuque na igreja a partir de 1921. O primeiro sino chegou em 1924 e o relógio da torre em 1927. Os primeiros altares de mármore foram instalados com o padre Carlos Simões da Rocha, que veio para Monte Azul em 1929. Como podemos perceber, até a crise do café, a igreja, mesmo devagar, conseguiu ser edificada de forma concreta, com a participação da sociedade, através de inúmeras campanhas realizadas à época, com doações vultosas, pois vivíamos uma época de prosperidade. Nossa igreja matriz com certeza é uma das belas construções da época, preservada, aumentada e modificada ao longo dos anos. Sempre um cartão postal da cidade, no centro de tudo, o alicerce inicial.
CONSTRUÇÕES: A década de 1920 foi pródiga em nosso desenvolvimento, com a expansão das linhas telefônicas, da energia elétrica, do calçamento de nossas principais ruas e até da chegada de agências de veículos, como a Ford e a Chevrolet. Mas o que realmente chama a atenção da época, que permanecem até hoje, são as construções sólidas e edificantes, que deixam marcas incríveis na arquitetura monte-azulense. Inúmeras construções mostram a pujança da época, como a construção da caixa d´água na praça Rio Branco, quase um monumento, difícil de construir naquela ocasião, que mereceu destaque em nossas páginas, ao canalizar a água em todo o perímetro urbano central. Também foi iniciada na época a construção do prédio da estação de trem, tão fundamental para a cidade, mas que foi muito criticada na época devido a ser construída no meio do que seria a rua Floriano Peixoto, impedindo o trânsito naquela rua, e dividindo ainda mais a cidade. A primeira sede da Prefeitura Municipal foi construída na época, atrás da igreja matriz, onde atualmente existe uma sorveteria. A Câmara Municipal funcionava também na praça Rio Branco, num edifício (demolido e substituído mais tarde) onde hoje está um anexo da atual sede da Prefeitura Municipal. Diversas residências em torno do perímetro central, local mais valorizado, mansões que permanecem até os dias atuais como símbolos da riqueza cafeeira, foram construídas na época por abastados fazendeiros e comerciantes. Muitas permanecem de pé até hoje, como a da atual Casa da Cultura, construída pelo banqueiro Aidar, que acabou sendo vendida para o banqueiro Queiroz após a crise de 1929. Também podemos destacar as casas comerciais construídas à época, como a sede do Banco Antonio de Queiroz, à rua São Pedro, inaugurada em 1926 (atualmente transformada em hotel), ou os casarões da esquina da rua Sebastião de Souza Lima com a praça Rio Branco, em 1928 e 1929, que tinham o comércio embaixo e a residência em cima, com uma arquitetura imponente, e que permanecem até os dias atuais como símbolos de beleza arquitetônica, preservados. Dessa época também é preciso destacar o edifício do Cine Teatro Ruy Barbosa, na praça Rio Branco, que começou a funcionar em 1924 com este nome (antes foi Ideal Cinema e Paris Cinema), e durou até o início da década de 1990, com outra arquitetura, mas com outro nome. O Atlético Monte Azul foi criado em abril de 1920, e seu campo de jogos foi logo construído na rua Floriano Peixoto, no local onde atualmente está o prédio do Fórum local. Havia diversos clubes sociais na época, sendo os mais famosos o da Sociedade Hespanhola (com essa grafia mesmo), à rua Major Hildebrando de Assis Pinto, entre as ruas São João e São Pedro, e o da Sociedade Italiana, este no local onde está a atual Câmara Municipal. Outro clube da época foi o Monte Azul Tênis Clube, fundado em janeiro de 1929 pela elite da época. Interessante lembrar que um dos símbolos de Monte Azul, a herma de Rui Barbosa na praça Rio Branco, também é desta época, de 1924. Isso se dá devido à influência baiana de migrantes que muito contribuíram com o nosso progresso naquela época, como as famílias Queiroz, Borges de Morais e Souza Lima, entre outros.
Paris Cinema, que se tornaria o Cine Teatro Rui Barbosa.
Primeira Câmara Municipal de Monte Azul Paulista.
Segunda Câmara Municipal de Monte Azul Paulista.
Sede do Banco Antonio de Queiroz, e atualmente como Hotel São Pedro.
PRESERVADAS: Algumas construções das décadas de 1920 e 1930:
OUTROS: Então, da crise de 1929 até depois de 1945, quando terminou a Segunda Guerra Mundial, foi um período de muitos problemas, com menos prosperidade. É preciso lembrar também que as consequências da crise mundial de 1929 atingiram demais a economia brasileira, refletindo politicamente, como acontece atualmente com a atual pandemia. Revoluções e revoltas, além de golpes políticos, ocorreram no país. A revolução de 1932 contra o golpe de Getúlio Vargas e seus comandados foi um desses acontecimentos, que acabaram gerando uma ditadura. Foram tempos bem difíceis, e Monte Azul Paulista também sentiu. Mesmo assim, comerciantes bem estruturados conseguiram se reerguer, se manter e até melhorar. Na época, surgiu uma nova Casa Bancária, o Banco Julião Arroyo (em 1935), que marcou nossa História por mais de 45 anos, ao lado do Banco Antônio de Queiroz. Seus proprietários marcaram nossa História com os embates políticos, que conseguiram movimentar a cidade por muito tempo, sempre com respeito mútuo, ajudando a fazer com que a cidade progredisse. Outros acontecimentos marcantes nas décadas de 1930 e 1940 conseguiram preservar nossa cidade de uma crise maior. Em 1937, um novo cinema, chamado Cine Azul, surgiu na rua Floriano Peixoto, para competir com o Cine Teatro Rui Barbosa, mantendo-se em atividade na cidade na fase áurea do cinema mundial. Em 6 de agosto de 1944 foi inaugurado o novo campo de futebol do Atlético Monte Azul, após grande campanha promovida para comprar a atual área do estádio Otacília Patrício Arroyo. Em 1946 foi inaugurado o Posto de Puericultura, importante e imponente edifício na praça Coronel Licas (atual UBS Saúde da Mulher Maria de Lurdes de Campos da Silva, “Malu”). No mesmo ano houve um acontecimento simbólico e muito importante, a queima dos papéis da dívida do município, que marcou nossa História. Isso foi feito em meio às obras de construção do prédio escolar municipal mais emblemático de nossa cidade, fundamental para o nosso desenvolvimento, o da atual Escola Aureliano Junqueira Franco, que seria inaugurado no final da década de 1940. Em 1947 o cheque para pagamento da dívida finalmente foi entregue e a mesma foi liquidada (desde 1928 estávamos individados). Também em 1947 começaria a arrecadação de dinheiro para as obras do edifício da maternidade (atual Hospital e Maternidade Fernando Magalhães), inaugurada em 14 de novembro de 1948, que marcou nossa cidade. Outra obra importante foi a urbanização de nossa praça matriz, a Rio Branco. Nessa época ela foi totalmente calçada, com a fiação toda subterrânea. Em 1949 foi inaugurado o Matadouro Municipal, obra importante à época, pois não existiam frigoríficos próximos. Também foi inaugurado o campo de aviação, onde atualmente está reservado para o novo distrito industrial. A praça Capitão Domingos Cione também foi inaugurada na mesma época, e receberia o viveiro de pássaros na década de 1960, passando a ser conhecida desde então como Jardim dos Passarinhos.
Cine Azul, na rua Floriano Peixoto.
CONTINUA NA PRÓXIMA POSTAGEM

Nenhum comentário:

Postar um comentário